A estomatite é uma alteração que provoca bastante dor e desconforto nos animais. Portanto, é importante buscar o tratamento adequado assim que houver o diagnóstico da doença.
Qual a indicação de tratamento para esses casos?
A principal delas é evitar o uso contínuo de corticoides no primeiro momento, e então você pode iniciar o uso de anti-inflamatórios quando se percebe que é um caso que está no estágio inicial, ou para iniciar um diagnóstico ou preparar esse paciente para o tratamento correto.
O tratamento de ouro é a remoção do local onde se inicia o processo do gatilho da estomatite.
Como se inicia esse gatilho? Através das bactérias que estão presentes na boca. Todos nós temos placa bacteriana, assim como os animais, e é impossível retirar as bactérias da boca.
Se por alguma razão o animal fica com a hipersensibilidade das suas próprias bactérias, se elas começam a se tornar um fator, um agente agressivo ou funcionar como um corpo estranho, o organismo não reconhece mais aquela situação e reage de uma maneira muito mais agressiva.
Essa reação agressiva pode causar o processo de estomatite.
Então como tirar ou como remover parte desse agente que causa dor, desse agente agressor que são as bactérias?
Nós sabemos que existem bactérias em toda boca, não só nos dentes. Existem bactérias na língua, no palato, nas bochechas, em toda a boca há a presença de bactéria.
Porém, há um local onde podemos retirar estruturas que acumulam mais bactérias.
Os dentes acumulam uma quantidade maior de bactérias e nelas, a placa bacteriana pode se tornar mais agressiva. Isso acontece porque é uma organização das bactérias onde são liberadas toxinas e se estimula ainda mais essa resposta orgânica.
O único foco de bactérias que podemos retirar da boca é o dente. Não se pode retirar língua, palato ou bochechas, por exemplo.
Então, pode surgir a pergunta, “Não teria uma forma de a gente fazer isso escovando? Escovar os dentes ajudaria no processo de controle?”
Sim pode ajudar, a questão é você ter um hábito de escovação diário ou de mais de uma vez ao dia nesse paciente que sente dor e desconforto na boca.
Manter esse hábito de higiene se torna uma tarefa difícil e, ainda assim, não se consegue controlar bem, porque pode não ser possível escovar corretamente os dentes do animal em algumas áreas da boca.
Portanto, a indicação existente é a extração dos dentes, sendo essa extração total ou parcial.
Os dentes serão extraídos de acordo com as áreas de ulceração. A chance de melhora ou de cura é de aproximadamente 80% quando são extraídos todos os dentes.
Quando extraídos parcialmente, a proporção de cura ou de controle fica em torno de 60%. Por isso, é mais indicada a extração total visto que o paciente terá uma chance muito maior de se recuperar completamente.
Existem pacientes que se recuperam bem com as extrações parciais, portanto, é algo a ser conversado com o tutor e com os veterinários para que se chegue a um consenso do que será melhor para o animal.
Então, pode surgir a pergunta, “Mas como ele vai comer sem os dentes?”.
Isso é uma coisa que as pessoas têm muito medo. Muitos têm receio de que seja um processo que cause mal ou que seja mutilador ou agressivo.
Realmente, é um processo agressivo, mas apenas porque estamos lidando com uma doença igualmente agressiva. Não podemos lidar com uma doença agressiva de uma maneira comedida, temos que ser igualmente agressivos para obter uma resposta melhor.
Porém, embora seja uma cirurgia complexa, envolvendo muitas questões e riscos, os riscos de se manter o processo inflamatório quando há a persistência da doença, são muito maiores.
A notícia boa é que os gatos, como os cães, não têm o hábito mastigatório como nós temos. Ele consegue se alimentar normalmente, ou mais próximo do normal, sem nenhum dente.
Os dentes funcionam para rasgar os alimentos. Eles não funcionam para mastigação, são estruturas pontiagudas que agem como uma tesoura. Além disso, os animais não têm enzimas digestivas na boca e a digestão é feita completamente no estômago.
O estômago está preparado para digerir grandes quantidades de alimentos e rações, inclusive inteiras, então não há com o que se preocupar.
Quanto antes for diagnosticada a estomatite, melhor será a resposta melhor esse percentual de cura.
A resposta é, inclusive, melhor do que a de pacientes que passam meses ou anos fazendo corticoterapia, anti-inflamatório, ou antibiótico para tentar conter a inflamação que sempre irá voltar.
Questões como doenças virais, o FIV e FeLV, o Calicivírus, Bartonelose, podem também complicar a resposta do paciente.
Como saber se as extrações agirão de maneira correta no tratamento?
A principal forma de saber, é através da radiografia da boca durante o tratamento. Nessas radiografias, podemos identificar qual o posicionamento em que essas raízes estão.
Porém, vale lembrar que a doença da estomatite não é diagnosticada pelas radiografias. Ela pode ser sugerida clinicamente apenas com o aspecto visual. O diagnóstico definitivo é feito por meio de biópsia. Então, por que a radiografia é importante no tratamento da estomatite?
As radiografias são necessárias neste processo porque precisaremos extrair todos os dentes do animal, incluindo suas raízes. Se as raízes, ou o ligamento das raízes, não forem removidos completamente, o processo inflamatório pode persistir.
Portanto, é preciso radiografar antes e após extrair os dentes para garantir que não vai haver nenhum fragmento de raiz após as extrações.
A borda do osso deve ficar regular, sendo removida parte do alvéolo e dessas estruturas que podem comprometer a resposta do tratamento.
É muito importante que as radiografias estejam em conjunto com o processo cirúrgico de extrações para ter certeza de que o paciente irá responder de uma maneira apropriada ao tratamento proposto.
